RIO TIETÊ
                                          
 

O Tietê da minha
adolescência

Das serras verdes dos eucaliptos ondulantes
Que o vento penteia nas manhãs outonais
Sais como um colegial pela manhã
Em busca de um futuro pelas matas,
Rolas, amado das antas e das capivaras,
Serpenteando por entre as árvores centenárias
 Como a surucucu por entre samambaias
 Ou sucuri escorregando entre as taboas.
 
 E teu pai-avô, o grande oceano,
 Está tão perto, logo ás tuas costas,
 Mas tua mãe, a natureza caprichosa
 Ergueu um muro de montanhas entre os dois
 E tu, por ironia de um estranho destino
 Tiveste que percorrer longo caminho
 E diluir-te em outro caudal mais volumoso
 Para encontrar-se novamente com teu pai.
 
 De Salesópolis, tua pia batismal
 Escorregando pelos vale das biris,
 Vens, alimentando jacutingas e boijis,
 Com jaguatiricas sondando tuas margens.
 Passas pelos campos onde índios secam peixe
 A Piratininga dos tupis-guaranis.
 Mais adiante quando andares mais depressa
 Será a vez dos teus filhos piraporas.
 
 Tietê dos meus dias de folguedos
 Quando ainda eu nadava em tuas águas
 As raças que nasceram do teu curso
 Ainda vivas bebiam do teu sangue.
 E eram tantas as tribos de arvoredos
 E quantas foram as famílias das tilápias
 Que tuas águas ferruginosas então criaram
 Para servir de alimento para a minha.
 
 Tietê dos meus folguedos adolescentes,
 Deixa-me, como outrora em tuas margens
 A contemplar as tuas águas silenciosas.
 Que meu espírito, novamente desatento
 Possa seguir contigo até onde o pai-oceano
 Absorve e cura as tuas maltratadas águas.
 E eu também, depois de tantos desencontros,

 Posssa achar onde curar as minhas mágoas. 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/04/2013
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