Nove Luas

Toda mulher,

não importa a idade,

leva dentro de si tantas

e tão outras.

Diferentes de si mesma.

E, ainda assim,

a mesma.

Ainda que o mundo

a veja uma,

toda mulher é muitas.

Algumas vezes,

ela mesma,

acostumada que é ao espelho,

fixa-se por muito tempo

em apenas uma das faces.

E assim se mostra a todos.

Inclusive a si mesma.

Mas um ser que sangra

ou pari

em diferentes fases da lua

e que tem um corpo-casulo,

ainda que não saiba,

ainda que não queira,

muda.

Toda mulher é mãe de si mesma.

Mais dia, menos dia,

se concebe outra.

Mais ano, menos ano,

gesta-se novamente.

E, em uma noite dessas,

numa lua assim,

no quarto da velha,

a dor, o grito e o choro

viram riso.

Olha!

É uma menina!