O HOMEM DO ROSTO SÓ
amada do rosto só,
nos teus lábios de riso morto
[agora]
mora uma saudade de sonhos, outrora imensos:
outra meia face, outra cara-metade,
as mãos dadas aos domingos,
os doces em compota
[ambrosias]
para que teu rosto não resista ao riso morto!
[como eram pequenos os teus sonhos...]
amada de rosto só,
ouve a minha voz vinda do calcanhar da janela:
uma voz sem meia face, sem cara de cara-metade,
com as mãos impróprias pros domingos,
dedos sem visgos de ambrosias
Sou aquele homem de rosto só
[despretensioso]
que transformou todas as tardes em noites
até engolir os pôr-dos-sóis!
[como eram pequenos os meus sonhos...]
amada de rosto só,
ouve a minha voz vinda do calcanhar da janela;
vê, não tenho ambição de ser amado:
a madrugada me trouxe até a ti só pra apagar teu riso morto.