Visgo
Euna Britto de Oliveira
www.euna.com.br
Um fio fino como o de uma teia de aranha, mas duro,
Arranha o disco de minha própria criação!...
As gravações antigas estragaram-se,
Por isto, a voz de minha mãe é entrecortada,
A de meu Pai, dissipada...
A de meus irmãos, perderam-se...
A custo, recuperei as vozes dos meus meninos,
E o som dos sinos,
Dos dois sininhos de prata, espatifados...
E outros sons familiares:
Os sinais do vira-latas,
A enceradeira ligada,
As perguntas da empregada...
Está errado bem direitinho o caminho.
E não se pode mais voltar.
Castigos no espaço por onde passo,
Castiçais no tempo contra o vento!...
Só em piano antigo toco bonito “Le Lac de Côme”...
O pano que cobriu o passado
Quando ele ainda era futuro
Bem precisava existir,
Para que eu resistisse,
Como resisti.
Que o diabo use suas sete capas de sombra...
Mais que infinitas são as de Deus, de luz!!!
Todo lugar onde era para pôr meu nome, eu pus.
Coloquei minha assinatura.
Por isso mesmo, umas horas, choro...
Em outras, desvaneço...
Em umas poucas, alegro-me,
De uma alegria bastante para me reanimar,
Quando esmoreço...
Deus não me fez para ser trouxa nem triste.
Contudo, existem os caminhos.
E por onde andei é o que sou.
Claro que andei a pé,
A cavalo,
De navio,
De avião...
Por felicidade, andei também lendo a Sagrada Escritura!...
Deu-me Direção!