Visceral
Arranco emoções das entranhas
Das mais simples às mais estranhas
Como se arranca planta pela raiz!
Espremo, piso, macero...
Até extrair o sumo
Até restar só a essência
De tudo que minh'alma diz!
Visto com palavras, invento versos!
Tudo se mistura dentro de mim...
Ouço harpas de querubim,
Meu peito se abre em reverência,
Minhas mãos viram escravas...
Vou me desfazendo feito vulcão em lavas...
Morro mil vezes, mil vezes renasço!
Ando mil léguas num único passo,
Voo em tantos céus sem sair do lugar...
Às vezes não alcanço meus pensamentos,
Nem entendo meus sentimentos...
Por isso, transformo tudo em poesia!
Transformo dor em amor, tristeza em alegria!
Fico livre feito criança solta na rua,
Mudo de fases como a lua...
Sou meu próprio veneno e unguento!
Viro ponteiro do relógio do tempo,
Giro para o momento que me convém...
Se não me convém, simplesmente paro
Minhas janelas escancaro
Espero raiar de novo dia!
Me batizo de novo em outra pia,
Mas nunca perco minha identidade...
Sou o retrato da dubiedade!
Minhas metades já se entenderam
Sempre unidas, assim cresceram...
Cada parte minúscula de mim é vital
Eu sou assim: puramente visceral!