Minha primeira vez

Minha primeira vez

Minha primeira vez não fez sentido, só chegou, falante fiquei

Minha última vez ainda virá, cheia de sentido, calado ficarei

Meu primeiro amor não era amor e sim sonho de verão, acordei

Meu último amor se fez amor em realidade moldada no inverno, viverei

Os amigos foram chegando inúmeros e sem ordem saindo, sem pedir licença

Os que ficaram nos dedos eu conto, conto com eles, poucos, com licença dada

O primeiro susto foi maior que a traição, doeu tanto que se evaporou, verdadeiro

O último abalo não foi sísmico, balançou o coração, não me derrubou, estrangeiro

Meu primeiro medo continua virgem, intacto, da agulha fina ao insensível olhar

O último é de não sentir o primeiro, de perder a capacidade de percebê-lo, senil

Meu primeiro segredo é só meu, puro, tão puro que esqueci...

Agora estou guardando tantos segredos que não cabem mais na memória

O primeiro beijo foi o único não dado, só sentido, perdido na minha boca virgem

Os demais sim!Vieram fortes e loucamente carrego na lembrança do corpo usado

E agora? Não há contagem, a vida passa sem a primeira vez, sem o frio na espinha

Na desordem da vida não tem primeiro nem último, barco a deriva no mar

Mar esse que não é tão azul, cercado de nuvens espero incontáveis tempestades

Que virão com força refazer minha numeração, revirar a matemática da vida

Agora sou marinheiro de primeira vez! Roupa branca, alinhado sob o sol

Vou navegar sem contar ondas, sem medo de nadar, no imenso barco vida!

Feliz!

Roberto Solano
Enviado por Roberto Solano em 21/04/2013
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