CRUZ RIO FIXO
Como deus menino que rabiscasse
no chão batido
título suplício de um crucifixo líquido
e nele outra vez se deitasse
mas agora feliz canoa de braços abertos
o poema deixa-se levar e nos leva.
O poema escorre no leito seco
cruz líquida para sempre desfeita
cavando destinos sem margem
abre nas mortas epidermes
caminho onde tudo floresça.
No inventado fluxo fixo do título
o poma desce levando o que têm força de ser
as horas demoram mil anos para formar um dia.
Gota transparente, a canoa abarca
a última novíssima configuração
é a dor seca de quem não sente mais
ausente na do rio é dor de toda gente.
Assim desliza rápido e áspero
o discurso domador do ausente
insuflando no coração que pensa
o sentir da prosa que basta
a poesia que no rio assente.
Reza, reza no riso do menino o rio
e nunca chega de evaporar a cruz
revela ser um título de nobreza
o esteiro mão aberta do poeta
istmo delta da inocência perdida.
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Baltazar