CRUZ RIO FIXO

Como deus menino que rabiscasse

no chão batido

título suplício de um crucifixo líquido

e nele outra vez se deitasse

mas agora feliz canoa de braços abertos

o poema deixa-se levar e nos leva.

O poema escorre no leito seco

cruz líquida para sempre desfeita

cavando destinos sem margem

abre nas mortas epidermes

caminho onde tudo floresça.

No inventado fluxo fixo do título

o poma desce levando o que têm força de ser

as horas demoram mil anos para formar um dia.

Gota transparente, a canoa abarca

a última novíssima configuração

é a dor seca de quem não sente mais

ausente na do rio é dor de toda gente.

Assim desliza rápido e áspero

o discurso domador do ausente

insuflando no coração que pensa

o sentir da prosa que basta

a poesia que no rio assente.

Reza, reza no riso do menino o rio

e nunca chega de evaporar a cruz

revela ser um título de nobreza

o esteiro mão aberta do poeta

istmo delta da inocência perdida.

*

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Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 21/04/2013
Reeditado em 29/07/2017
Código do texto: T4251702
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