[Eu já parti ontem!]
Conformemo-nos: nenhuma pessoa pode ser vista inteira, jamais! Impressionismos... fuga de impressionistas fragmentos de ser: é só o que nos aparece!
Certamente, se eu me preocupar com as impressões que deixei atrás de mim, na minha passagem por um ponto da minha trajetória, fico louco mesmo! A vida é movimento, é viagem, é travessia rumo ao nada.
Estar parado, presente num instante, diante de alguém, implica numa alta, altíssima exposição de mim: sujeito-me a escrutínios estúpidos, avaliações infundadas, atrevidas, até.
Só faço algum sentido, só crio incertezas, só agito espíritos, só engendro dúvidas se estou em movimento. Parado na estação de alguém, eu sou tão ninguém, tão ninguém! Parar é mesmidade, empobrece...
Dar e receber afeto: risco que eu amo correr sim, mas sem me olvidar de que o meu trem já está em movimento...
Confirmo: é escrevendo que eu mais aprendo a falar calado; tenho pena de mim quando chego a pensar no quanto falei nesta minha vida... Falar calado é não dar tiros de festim, é usar munição da boa...
[Tenho pressa:
você pensa que eu cheguei agora,
apenas por que não viu que eu, antes de vir,
já te ruminei, e que eu já parti ontem!]
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[Desterro, 21 de abril de 2013]