Faróis e a Moça do Banco

Eram tres moças. Bonitas, elegantes e, provavelmente, formadas em Administração de Empresas, Economia ou correlatos. E, também provavelmente, funcionárias de um grande agiota multinacional que vulgarmente se chama de Banco. Nele, provavelmente, desempenham, a Supervisão de câmbio, ou de seguros, ou do mercado de ações. Seguiam para o almoço, alguns passos à minha frente, e foi então que uma delas disse: "eu odeio farol de shanon (não sei a grafia certa) em carros populares"....

Em que dias se quedaram

o Concerto berlinense

e o Pensar vienense?

Onde, Chaplin e o nonsense?

Em que páginas ficaram

as utopias que desenhei

e as cruas verdades que sonhei?

Em qual gaveta guardei

o poema para a Musa que tentei?

E de que valeram as torturas que passei,

a fome que uivei,

as sendas que andei

e as lutas que lutei?

Agora só existe a paz dos cemitérios,

onde os gerânios só adornam

o conformismo

do falso batismo.

Gaya Mãe-Terra

em que ciclo se encerra

esse tempo de futilidade?

Essa triste idade?

Quais deuses nos redimirão

desse prenuncio de danação?

Quem nos libertará da moça dos faróis,

e dos trágicos anzõis

que engolimos

enquanto rimos?