UM LOBO DA ESTEPE

uiva dentro de mim

uma voz diferente

quando entrevejo a lua

arcos faz outra voz

como se fossem pulos

buscando antigos charcos

uma na contramão

navega mares turvos

mas só fala água pura

outra dissimulada

rasteja o chão da língua

e suja o céu da boca

ainda uma outra voz

às vezes se abre em plumas

noutras nem mesmo em rimas

vozes há aqui dentro

das que por tudo latem

e sem motivo mordem

asas minha voz tem

mas troca todo o azul

por um chão de migalhas

[MMXIII]