O TEMPO
A vida é muito fugaz
Para os viventes da terra,
O tempo envelhece a todos,
A quem acerta e quem erra
A gente é quem mato o tempo
E o tempo é quem nos enterra.
O tempo é igual na terra
Pro nababo e pro farroupa,
Envelhece ao tubarão
Como envelhece a garoupa,
Mas à guisa de dinheiro,
Dá juros pra quem o poupa.
A gente nasce sem roupa
E vive a fase de criança,
O tempo traz a velhice,
Monstro da desesperança
E só a vida permanece
Depois de cada mudança.
O tempo faz a cobrança
Da dívida grande ou pequena,
Depois que o presente julga
O passado é quem condena
E o tempo é irredutível
Na aplicação da pena.
O tempo não sai de cena,
E na sua sutileza,
Dá fealdade a plebeia,
Decrepitude a princesa,
O tempo é um invisível
Destruidor de beleza.
O tempo traz a certeza
De uma vida madura,
Os embates da velhice
O medo da sepultura.
O tempo destrói o ferro
Quanto mais nossa estrutura.
O tempo é riqueza pura
E tesouro que muito rende,
Existe até um ditado
Que a essa tese defende:
Quem tempo e tempo perde
Com o tempo se arrepende.
Sei que o mundo compreende
Que ao tempo muito se deve,
Na corrida contra o tempo
Ser forte ninguém se atreve
E, com o tempo, o tempo apaga
As páginas que a vida escreve.