rapsódia (janela)

Cargueiros

O verde que ainda trago

É o verde de quando chove

Que brilha e lembra vida e

A moça que ainda é jovem;

Arrancaram-me a textura

De uma pele sem sujeira,

deram-me ornamentos ,

E fecharam-me janelas

O verde resistiu, escondeu-se

No meu ventre, e creio que

Seja ele, a veia do poeta!

Caçuá

O jeito é amar

De pedra nas costas

Com dois caçuás

Pisar na água escura

E entardecer com ternura

Indagar sobre a vida

Mas não muito,

Para que não a tome

Ofendida, e sentir o

Que te vem, ouro

Ou vintém,

[

Rasgos

eu buscava fechar os rasgos

da minha existência, que me

escondesse da infância e da

adolescência; e de tantos rasgos

fechados, rasguei-me de

incoerência;

tornei-me uma costureira,

que alinhavava a criatura

me escondendo da vida inteira

com uma simples costura

nuevo

se meu canto não lhe convém,

se do meu amor não lhe dou prova:

diz logo: vou embora!

tudo se satura, até o amor.

pois na vida nada perdura;

Nada de fixo existe

tudo que é, logo se move

até um encontro que foi vivo

hoje triste, se isola ;

então assim eu te peço, tenha

misericórdia, sem medo ou devaneio

despede-se desse sonho

se houvesse amor, não haveria esmola

depois da porta da rua

de tanto pedir ,

de tanto gritar

de tanto latir

as janelas se abriram

e eu vi:

a mesma

coisa de quando

eu guardado:

salvo o amor, que

dá vida ao outro lado!

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solavanco

quando Paula Ana cruzou as pernas

e um naco de vida acendeu ,

ajoelhei sobre as águas e

sobre as pedras e descobrir-me

farol.

e minha imaginação, tão poderosa

quanto o céu, arriou do seu cavalo

bravo , pulou sobre o tablado;

e dançou fogo como o sol.

meu corpo, que antes, boiava

em mar morto, abriu-se em janelas

e de longe, dentro dela, eu

vi que havia um flor

que queria me falar de amor...

A coisa amada

Uma mulher passando curto,

de vestido branco, bolsa preta

Atravessou a rua...

Acompanhei suas pernas

suas mãos, a barra do vestido

Delicado;

o vento lhe soprava e a roupa

lhe respondia em acenos.

Na calçada, antes de virar esquina

prendeu os cabelos

Como se prendesse a coisa amada...

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Sinto rendado

O beijo que da boca estralava tremia

A língua e dobrava, rumava de gosto

Azedo a folha que da árvore roubava

E surgia do vestido curto, o raio que

que vazava em surto , e mordia a carne

apertada, o fogo que das pernas roncava...

E entrava no escuro molhado, o talo que

a vida lhe dava. E eu sentia no quarto,

o grito de um sino rendado

Flor de perto da igreja

Tem jeito de flor,

Daquela praça

Que te conheci

Perto da igreja!

tem gosto

De flor, daquela

Flor que vi, naquela

Praça da igreja!

Tem cheiro

De flor, daquela flor

Que vi, lá na praça,

(da igreja)

daquela flor...

Que vi na praça

Da igreja

No meio de suas

Pernas...”

um janela qualquer

A cidade está

Rodopiando sobre

Tua boca, sobre

Tua pele de susto

Nesse teu olhar

De ambrosia

E tua boca tem

gosto de caldo

da cana e de

melancia, (...)

Que me perdoe

seus peitos

pequenos mexe

tanto comigo

“me dá uma agonia!”

teus lábios frescos

melancolicamente

não fala de amor.

Mas quando os vejo

Acende meu dia;

Não quero o amor

(...)

Quero sim, tuas

Pernas em arco

Tuas unhas afiadas

“quero o mar bem

revolto e as ondas

estouradas ...cuspindo

todo o branco do mar

na areia ressentida

quero sim

a vida latindo

e tua boca

berrando aquelas

palavrinhas...

Quero a vida

Que se come

Que se gosta

Quero a vida

Boa, não uma

Vida de lorota

eu quero mudar a

Geografia...

texardermia

Congelado, paralisado,

Olhos estatelados, corpo

Sem sangue, desidratado

Coração ausente, sem carne

pulsar, sem vida, portanto

sem dor...

Assim... um rato na estante,

olhos abertos, de pé, morto,

palha, empalhado, um vazio:

entretanto, uma forma...

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Que noite é essa?

Não era assim

Que eu imaginava

A noite:

(Em plena luz do dia! )

na praça, no

corredor do trabalho

e na janela clara;

embaixo do sol.

ela vem e me esmaga!

(que noite é essa

que nunca dorme?

escura, densa e disforme

e se caso eu a prenda

ela incha e quase explode;

que noite é essa

essa noite que me sacode

que me castiga e me intriga

como se fosse uma porta

que imita a morte...

que noite!

essa!

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Quando minha amada

Abriu a boca e outros

monstros, eu estava de

malas prontas, já entrando

noutro canto, onde homens

são homens, e não roga-se

santo. dei-lhe outro bicho

encardido e malvado

dei-lhe um feitiço que

lhe atravessou as imagens

comprimi-lhe em ritos

o fogo que lhe saia da saia;

eu me embrenhei no seu corpo

para que lhe arrancasse do

maia , e ela deu pulos, risadas

saltos ornamentais,

quando sentiu que eu estava

num estado não mais

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As casas enfileiradas , antigas,

Com tintas parcas, em cascas

Na casa do meio, a mais bonita

Das feias, Dona Iracema, que

Não havia muitos anos, era uma

Puta na Rua da Areia, convive com

As outras, mais sérias, que nunca

Pode Mostrar suas veias;

No rosto de Dona Iracema

Tem o gosto de quem viveu

E não se cala do sorriso

De quem a outras vidas se deu

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As casas enfileiradas , antigas,

Com tintas parcas, em cascas

Na casa do meio, a mais bonita

Das feias, Dona Iracema, que

Não havia muitos anos, era uma

Puta na Rua da Areia, convive com

As outras, mais sérias, que nunca

Pode Mostrar suas veias;

No rosto de Dona Iracema

Tem o gosto de quem viveu

E não se cala do sorriso

De quem a outras vidas se deu

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Alex Ferraz Poti
Enviado por Alex Ferraz Poti em 11/04/2013
Reeditado em 11/04/2013
Código do texto: T4235182
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