ENTÃO, SESSENTA

Numa tarde de outono recém posto,
avancei por uma dessas
estradas da vida aprisionada
na memória e não vi o sinal.

De repente, tinha ultrapassado os sessenta.
As rugas eram a prova derradeira,
colocada de forma explícita no rosto.
Deixara para trás promessas.

Tinha me descuidado da estrada,
de mim, de ti e me perdido no banal.
Gastei a vida enfrentando a tormenta
ilusória que é dos incautos eterna parceira.

Tinha deixado para trás a inocência;
tinha regado equivocados jardins;
tinha desistido de voar as utopias
da poesia que reneguei no ventre.

Desta tarde de outono vem o gosto
amargo da lembrança dos fracassos,
da ansiedade, da falta de paciência
ao ver teus lábios carregados de carmins.

Dela vem a dor fluindo por dias
perdidos, desacomodados por entre
silêncios e bravatas. Tarde de agosto
e eu ainda à espera de teus abraços.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 10/04/2013
Reeditado em 30/09/2013
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