SONETOS - COLETÂNEA
1- DO AMOR
( dedicado a Maria, minha mulher)
Minha vida teve um momento,
Gélido foi, em que tudo parou.
E só o que, de mim, então sobrou,
Era sem vida, e sem alento.
Fui um novelo de cicatrizes,
Tudo o mais ainda por viver,
Embotado, sim, e sem perceber
Da vida as cores, ou matizes.
Logo esse escuro, esse breu
Que era então a minha vida,
Clareou, fez-se um lindo albor,
Abriu-se, explodiu, amanheceu
E achei, torrente incontida,
A beleza serena do amor!
2- DA VIDA
Claro, a vida ficou mais bela,
os dias claros, noites mais cheias...
e tudo por vivermos a meias...
e tudo isso por causa dela...
E se hoje, num terno remanso,
águas agitadas outrora
prosseguem livres vida afora
em suave e meigo descanso,
dou-lhe graças a ela, amada,
raíz profunda da minha vida,
e caminho para os meus passos,
pela esperança arraigada,
pela cabeça alta, erguida,
pela força mansa, nos meus braços !
3- DAS PALAVRAS
E se os olhos, por um momento,
mostram paixões que trago no peito,
então, com que estranho direito
furto minhas palavras ao vento?
Há somente que falar a vida,
dar-lhe côres e emprestar-lhe tons,
para desfrutar-lhe todos os dons
e vivê-la mais enriquecida...
- e saborear-lhe os momentos.
Senti-la plena e bem querida,
e encontrar-lhe em cada dia,
repetido nos seus fundamentos,
e na mágica acontecida,
o toque subtil da poesia !
4- DA POESIA
E se o mesmo toque sublime
todo o momento ilumina,
eis que nos subverte e fascina
e nos escraviza e oprime.
Subjuga e adona-se de nós,
e vai tomando conta do tempo
e gerando em nós o alento
e a força que nos solta a voz.
É dele esta voz que ecoa
o ritmo, a pulsação da vida,
sem ouvir nem medos, nem receios,
indômita, feliz e tão boa,
e que traduz, mãe embevecida,
dos dias, os sonhos e anseios.
5- DO DESAFIO
E chega a hora receada
de lhe dar forma, á poesia.
Passar adiante alegria,
e de maneira articulada...
É isso o que hoje eu tento,
aquela coisa que eu nunca fiz.
Tentar traduzir na frase feliz
o que me está no sentimento.
E assim me digo, e exponho
desta forma, nesta fantasia,
aquele sonho sempre sonhado.
E tento fazer, com esse sonho,
o tal milagre da poesia:
-amar o mundo, e ser amado !
2006 S.P.E.C