A INCÓGNITA
em memória de Charles Darwin
sem disso sequer terem recebido notícia
congeminavam os homens como habitar
as planícies semear os campos escalar
as montanhas amasssar o barro pintar as grutas
caçar antílopes beber uma cerveja perguntar
a Darwin como tudo isso amanhã
seria possível
ainda amolecidos pelo peso da água
tolhendo-lhes as entranhas e os movimentos
sem que os deuses tivessem por esses
momentos
dado qualquer sinal de vida e já a terra
apascentava pachorrentamente uns paquidermes
à mistura com uns insectos insignificantes
e umas aves desengonçadas brincando com répteis
querendo subir a árvores sem que memória
houvesse do desaparecimento dos dinossauros
enquanto o sol persistentemente manteve a ideia
de iluminar as flores na repetição contínua
dos calendários
de modo a que se não acabasse o futuro
aqui nesta aldeia
José António Gonçalves