Árvore Seca

Agora, a árvore seca

revela a própria morte.

Quando fui moço,

bebi a sua sombra

e adormeci o seu verde.

E foram as suas folhas

as minhas primeiras poesias.

E foram em suas plumas

que viajaram meus timidos

amores primeiros.

Depois, a vida carregou

as folhas e as almas

por outros caminhos,

mas eu nunca pude esquecer

de como era bonito

vê-la trocar as cores do rosto

em cada Outono chegado.

E vê-la, assim, de bronze vestida

ostentar a elegância

das damas inacessíveis.

Nunca pude esquecer o gosto

de afagar as rugas de seu caule

e as cicatrizes de sua face

que o tempo e a maldade lhes acrescentava.

O gosto de lhe sentir a seiva.

De sentir-me a vida.

De lhe saber casa e abrigo

do colíbri que nos frequentava

e do Saci que nos assombrava.

Nunca pude esquecê-la...

Mas agora

os amores se foram,

as crianças cresceram

e os caminhos já foram caminhados.

Só resta a árvore morta

e atravessar a última porta.