Domingo de janeiro chuvoso na alma e no tempo
(Os júbilos fecundam; as tristezas geram.) "Willian Blake"
Domingo de janeiro chuvoso na alma e no tempo:
no tempo de uma semana só se vê água
chuva bruta molhando arrabaldes diversos;
na alma se vê a amargura de coisa nenhuma
a angústia antecipada de existir necessariamente
o terror de sentir em suas corcovas o peso da vida
e ser obrigado a caminhar como um camelo pelo deserto
experimentando a existência como um viajante num deserto:
a procura de oásis e acampamentos que aliviem
a dor de andar descalço dos pés e descalço do coração
de andar sozinho como quem procura a morte
de falar e responder pra si mesmo, pois não há outro
há somente alguém sem portas porque elas viraram detalhe:
quando a solidão é devorante, pra quê portas?
em tempos indigestos, pra quê poetas?