o homem que roubava flores
o homem que roubava flores
que não sabia que seu coração era um jardim
que roubava daqueles que tinham
e não semeavam polens
nas mãos de outras pessoas...
o homem que roubava flores
pra perfumar as vidas de outras pessoas
que nem gostavam de flores
mas que precisavam de seu perfume
o homem que roubava flores
foi-se embora
sem hora marcada
sem dia escolhido
foi-se o homem
que polinizou vidas
cuidando das cores
e das texturas
e das loucuras das horas
que passavam deixando hematomas
deixando cicatrizes
deixando marcas
como as flores que deixavam seus rastros
na vida de cada um
o homem que roubava flores
foi roubado
e sem vida
e sem flores
fez a sua viagem
pra nunca mais voltar
mas deixou seus caminhos
estradas e veredas
encharcadas pelos perfumes
pelas cores
pelas texturas
pelos cheiros
e pela ternura
de todas as flores que ele pode roubar
e fez-se homem no exercício
soberano de ser
do ter no soube conjugar esse verbo
tornou-se invisível
aos olhos da pragmaticidade
em ferrugem a se destilar
e como muitos
seguiu a sina ou o destino
fazendo-se menino
com os cheiros das almas das flores
que compôs o seu existir