o homem que roubava flores

o homem que roubava flores

que não sabia que seu coração era um jardim

que roubava daqueles que tinham

e não semeavam polens

nas mãos de outras pessoas...

o homem que roubava flores

pra perfumar as vidas de outras pessoas

que nem gostavam de flores

mas que precisavam de seu perfume

o homem que roubava flores

foi-se embora

sem hora marcada

sem dia escolhido

foi-se o homem

que polinizou vidas

cuidando das cores

e das texturas

e das loucuras das horas

que passavam deixando hematomas

deixando cicatrizes

deixando marcas

como as flores que deixavam seus rastros

na vida de cada um

o homem que roubava flores

foi roubado

e sem vida

e sem flores

fez a sua viagem

pra nunca mais voltar

mas deixou seus caminhos

estradas e veredas

encharcadas pelos perfumes

pelas cores

pelas texturas

pelos cheiros

e pela ternura

de todas as flores que ele pode roubar

e fez-se homem no exercício

soberano de ser

do ter no soube conjugar esse verbo

tornou-se invisível

aos olhos da pragmaticidade

em ferrugem a se destilar

e como muitos

seguiu a sina ou o destino

fazendo-se menino

com os cheiros das almas das flores

que compôs o seu existir

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 07/04/2013
Reeditado em 11/04/2013
Código do texto: T4227814
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