[A Espera]
[Samuel Beckett revisitado]
Nada é o mesmo de ontem:
outro amanhecer,
outro nada se avultando,
outra cara [amarrotada] no espelho,
outras ruas vazias,
outros braços caídos,
outros olhos interrogantes,
outras mãos ávidas de acarinhar,
outros lábios ávidos do beijo,
outro coração de salas frias,
outro abraço imaginário,
outros pés sem onde, sem rumo...
Porém, excessivamente e sempre,
a mesma espera... de quem, de quê?
Ecoa a fala seminal de Estragon:
— "Nada a ser feito"...
Exceto...Oras...!
"O essencial não muda nunca",
e portanto [toda conclusão é fútil]:
"eu me acostumo à merda,
à medida que vou andando"?!...
... pois estou, estamos todos esperando...
— nascemos com a Espera da cura
na massa do ser, na teia pegajosa da vida...
Então, esperemos... pois da Terra do Bem-Virá,
partiu Godot! Quando chegará?
Nada a fazer... só esperar, esperar...
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[Desterro, 06 de abril de 2013]