O OUTRO EU

Na Poesia, a morte transita descalça

com sua aura de fogo.

Punhais gemem,

obscuros,

o abscôndito e esquecido esquife.

O medo na boca, na solidão

a morte transita.

A voz da morte desenha o poema

E algo nasce do obscuro,

da sombra disforme

que apunhala o alquebrado corpo.

Não há dor mais doída

nem gemido mais lancinante.

Vazar a lucidez

e permanecer íntegro (no que sobra)

é o estóico esforço.

Máscaras velam o poeta,

ervas daninhas cobrem a história

do outro eu que ressurge

– mudo –

no túnel do tempo.

Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 93.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/42263