Do outro lado da rua / Tributo à Gonçalo / Abandono
Do outro lado da rua
Do outro lado da rua, a calçada
a vida apressada dos que passam e mais nada
Mais nada que te faça presente
nas vitrines apagadas
nem minhas lembranças empoeiradas
Do outro lado da rua
deixo o olhar perdido
aravés das paredes encardidas
como a procurar aquela vida esquecida
em belos tempos coloridos
Voce foi um verso que um dia imaginei
e coloquei numa rima, nada mais
Entretanto agora distraido
fico a te procurar esquecido
do outro lado da rua.
Carlos Marcos Faustino
04/10/1979
Tributo à Gonçalo
Gonçalo de árvores quietas e empoeiradas,
de ar fedorento, de pedra pisada,
esburacada, suja e bela,
Gonçalo, repousas na marginal do meu peito
tracejas saudades sem jeito
dessas minhas antigas paradas
Foste linda porque me tiveste inteiro
Foste bela, viste-me cavalgar teu seio
Viste meu olhar saudoso a querer envolver-te
Gonçalo, desperta, já nasce o sol
Desperta que as minhas saudades
só querem mais e mais saber de você...
Carlos Marcos Faustino
Abandono
Janelas escancaradas
um ar gélido inda no ar pairava
Um vestido humilde caído na escada
Uma cadeira velha. vazia, inda balançava
Perdia-se no ar o som de uma voz, terna, doce
Uma canção de ninar, um berço vazio,
Uma foto, dois sorrisos estampados,
Apenas dois sorrisos naquele quarto escuro e frio,
Nem pelo menos na lareira uma brasa, um lume
Deserto. Abandono. Uma aranha tecia,
um véu a cobrir tudo o que outrora sorria
E que agora.. tudo tao só, tudo saudade,
Apenas um passado em pó.
Carlos Marcos Faustino
03/05/1971