BODAS DE SOL
Ela pensou que se casaria cedo.
Seus precoces olhos miúdos,
quietos como o medo do medo,
foram enxergando-se para o mundo
tão devagarzinho,
quase aos doze anos,
assustados com o beijo trocado
em quase absoluto segredo.
Ela pensou que se casaria muito cedo.
Foi arrebatador seu primeiro amor;
tão arrebatador
que lhe custou várias dores-de-cabeça
uma crônica com caligrafia de infância
e um jeito sério de levar a vida sem brinquedo,
por mais improvável que as bonecas
possam ter filhos, tudo, na alma
pode ser previsível e harmonioso.
Ela pensou que não mais se casaria cedo
quando o primeiro amor partiu;
segura de si,
deixou o tempo andar
sem quebrar as correntes dos pêndulos bêbados
de susto ou soluço a calar os cucos a muque
nos pulsos apertados pela hora digital.
Ela pensou, até, que ficaria-para-titia,
enquanto seu corpo sofresse pela falta do corpo
igual, casual ou semelhante
ao seu cheiro à espera do silêncio;
o tempo do primeiro beijo,
tardiamente lembrado,
não tem o gosto do homem que mora ao seu lado
cheio de história, amnésia, lembrança e memória
por dormirem encostadinhos, equilibrados!
Ela chegou a pensar, desde muito cedo,
que se casaria ao primeiro raio de sol.