dum poema escrito num apartamento qualquer
Saio da cama e vou até a cozinha:
forço a vista para ver um pedaço de céu.
Nesses apartamentos cubo-futuristas
ver o céu se tornou um luxo.
Nesses céus de concreto e asfalto
viver em apartamentos se tornou um lixo.
Há quem afirme que sem janelas
a felicidade não penetra a casa.
Pobres-diabos, esses homes todos encaixotados.
Não há vestígios de corpos nem pedaços de céu ou de mar:
faltam pedaços que completem
pontes entre margens opostas.
O céu não cabe em caixotes.
Mas construtoras empreitam a felicidade.