POEMA PARA A MULHER POLAR

num dia de sol, fui apresentado

à mulher imune ao amor:

era trágica,

era magérrima,

e tinha uma’alma sombria.

passado, tinha todos

e tantos que nem mais ia à farmácia,

só para não pesar os pecados na balança

a conheci num dois de fevereiro

— dia de Yemanjá —

de rosto com maquiagem

a cobrir-lhe a cor da pele,

com os cabelos penteados

impecáveis, apesar do vento,

de gélidos gestos estudados

sem nenhum milésimo de sentimento

com sua voz metálica,

falou-me pausada do primeiro,

do segundo, do terceiro casamento,

como se experimentasse vários pratos, alguns exóticos,

dos quais, alguns com nojo, desde a mais absurda infância.

Com a maior cara-de-pau,

apesar de desconhecer o meu eu lírico-romantico,

pediu-me que a fizesse passear por sobre as águas

profundas e obscuras!...

Olhei-a como se já estivesse partido,

abandonei a mochila na areia cheia de poesia,

e segui nu qual um menininho Jesus recém-nascido

pedindo perdão por aqueles que não sabem

ou que não fazem do amor um sentido.