Emergente
Dentro desse terno
e no aperto da gravata,
sinto-me o tal.
Todo cheio de bravata,
esqueci-me quem diria
até da minha serenata.
Dentro do meu carro
zérinho e importado,
passo por cima de tudo,
sou até bem malcriado
e lembro, embora adulto,
aquele moleque levado.
Dentro de mim mesmo,
nem conheço esse eu;
cresci, feito bobo mudei
e não sei nem se valeu,
que ganhei tanta coisa
e outro tanto se perdeu.
Até nem rezo mais
igual a vó ensinou.
Cego, surdo e mudo,
não sei nem onde vou.
Antes não tivesse mudado,
hoje não sei quem sou !