Ainda nem Amanheceu... Mas Bebi todos os Sóis
Ainda nem amanheceu
e o céu do seu olhar
relampeja o meu sentir
triste e só a trovoar.
Ainda nem amanheceu
e as horas pararam de passar
parou o transeunte no liceu
para aprender, para ensinar.
E nas paredes dessa alcova
pôsteres de galáxias mortas
e um quadro empoeirado
que não viu a vida continuar.
Olho os santos na escrivaninha
e olho as velas a crepitar
há rosas, risos e margaridas
e há uma alma a desencarnar.
Ainda nem amanheceu
e minha mente é devaneio
de um contraponto ou entremeio
onde repousarei as asas de cera.
Ainda nem amanheceu
e o seu sol já quer partir
para seus filhos ir parir
em uma cama suja de hospital.
E nas paredes dessa alcova
sombras e sonhos encardidos
tão desregrados e destemidos
que esvoaçantes me fazem rir.
Olho os santos na escrivaninha
e já não há nenhuma ladainha
e velas votivas dispersas ao léu
espalhando pedidos sem fé e nem fel.
Ainda nem amanheceu
e já não encontro meu chapéu
nem algum rumo esporádico
nem aquele grito letárgico.
Ainda nem amanheceu, mas eu parti...
Ainda nem amanheceu, mas bebi todos os sóis...
Ainda nem amanheceu,
e minhas flores derreteram com os orvalhos...