[A Pedra de Olhar o Mundo]

[Memórias do chalé amarelo - Araguari - MG]

Bem no cantinho da casa,

quase junto ao pé de guiné,

único vigia que casa de pobre precisa,

havia uma pedra de olhar a rua.

Era tão grande, tão grande,

que quando eu me sentava nela,

para contemplar saídas longínquas,

os meus pés não mais tocavam o chão!

Então, sentado na pedra, eu ‘maginava...

A bola do mundo girava sob mim,

era só eu estender os meus braços

subir nas costas de um urubu viajador,

e agora, eu podia ver o longe da Avenida Minas Gerais,

podia sim, pairar no alto, acima das árvores do Parque,

naquelas asas possantes, eu ia alcançar as distâncias antes proibidas,

naquelas asas possantes, eu partia para o sem-fim do mundo!

Sentado naquela pedra, de olhos abertos,

eu sonhava um mundo para mim:

um mundo sem carências,

onde as crianças não tinham hérnia,

e podiam correr e pular à vontade.

todas as crianças tinham pai, e eram alegres,

pois nesse mundo sem dores, sem agruras,

todas as diabruras eram permitidas!

Mas, da minha pedra de olhar o mundo,

eu voei... vim dar no que dei,

ser o que não quis ser,

da minha pedra, eu voei... faz tempo!

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[Penas do Desterro, 14 de janeiro de 1998]

[Do meu livrinho “Arribadas, O Passo da Volta” - ilustrado por Paula Baggio] *** Projeto “Memórias do Chalé Amarelo”