OLHAR QUE CORTA
(Sócrates Di Lima)
A olhar que rasga,
A carne do amor,
Abre fenda e nunca apaga,
As sansações de torpor.
Nas mãos a vontade,
Nos lábios a navalha,
Nos olhos a profundidade,
Do corte que espalha.
E nas andanças pelas terras sem dono,,
Ecoa o grito do desesperado,
Que ao revés do abandono,
Andarilha para todo lado.
Assim é o amor perdido,
Que tanto ouço nas canções,
Nos veios de poema sentido,
Nas exposições de corações.
E assim a poesia fala,
Grita,
Cala,
Agita...
E assim é a vida,
Que segue com rumo e sem rumo,
De coração e alma atrevida,
No fio da navalha como prumo.
Então vê ao longe a canção,,
Que entona a brisa em cantiga,
Trazendo uma nova emoção,
Laços de desejos que não castiga.
É quando a mão se estende e pega,
A outra mão que estendida se faz,
Numa doce e sublime entrega,
Os corpos se alinham em paz.
Solta a vereda dos sertões da alma nua,
Que sob o véu do desejo flutua,
Como quem disputa a Lua,
Para amar na mais sana loucura.
E assim, os votos de castidade se quebram,
E o corpo em chamas se lança ao leito,
Na dualidade do amor que entregam,
Se abrem em paixões pelo peito.
O amor é como a navalha na carne que corta,
Rasga profundo mas não sangra e nem dói,
E enquanto este amor permanece do lado de dentro da porta,
Permite que todo o seu poder de amar viva e nunca se corrói.
Aqui no lado de fora do mundo poético,
Um olhar que queima sem queimar,
Rasga por dentro como navalhar estético,
Que não tem pressa de os olhos fechar.