À SOMBRA DA CRUZ DE PÁSCOA

A poesia revoluteia em mim

à sombra da cruz de páscoa.

Ajoelho-me na pretensão de homenagear

a hipocrisia dos homens ao Cristo crucificado.

Sempre a dimensão humana, controversa, aleatória.

Em antagonismos de pregação e práticas

a igreja de Pedro desce

de seus castelos de ouro e púrpura

e beija os pés dos desvalidos.

A hipocrisia campeia incenso e mirra

e o meu dízimo é a palavra: humana

como um beijo no bezerro de ouro.

Segue a humanidade à busca do

que parece estar fora do ser,

conquanto está dentro dele:

uma luz que brilha, enquanto

ressuscita o INRI – o deus dos perseguidos,

à busca dos cordeiros.

E no meu íntimo a punição: tanta pompa

aos sacrílegos de todo o tempo...

E o herege inconvicto deita-se sob a alça

da tumba, com pouco tempo e vontade

para a louvação desbragada.

O coração sangra os mistérios dolorosos.

Quem sabe amanhã tenhamos peixe e vinho

à ceia dos aflitos...

O Santo Padre estatela-se sob céus de chumbo,

beija os enlameados e chora a exclusão.

Um soldado romano chicoteia a humildade...

A hecatombe humana vivencia, de costas,

as doze estações da via sacra...

MONCKS, Joaquim. A BABA DAS VIVÊNCIAS. Obra inédita, 2013/21.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4216138