Enfermo Canto de Sereia
O sal, rico, saborosa angústia
vento úmido, quente, rouco
de longe, a ave tudo via
n'outro belo canto louco
sem saber o que fazia
A insanidade controlada
cuidada pela bela Iemanjá
deusa nobre da enseada
caridade que perdurará
musa piedosa e amada
Trame o novo canto de sereia
musa oculta de beleza e luxuria
meia deusa, tanto quanto baleia
na umbra deste mundo se ébria
aguardando quem no mar passeia
Cante sereia a mim, cante
anseio ouvir teu versejar
ao escutar-me não se espante
há muito que poço desejar
quero ouvir-te quanto antes
Choro melodioso d'uma deusa
filha da rainha destas águas
inda peixe, singular musa
que só, desafoga em mágoas
d'um mundo que d'outros abusa
Ouço-te, d'água residente
desabafe teu sofrimento
expresse até estar contente
não importa meu lamento
me palpita um coração valente
Sonegada deusa sobrenatural
que não ousas se manifestar
há quem atreve-se dizer-te mal
mas agora irei-te contar
da doença que habita o natural
Criaturas ambulantes, cansadas
criadores de escravos modernos
vidas notoriamente mal-acabadas
mas jamais largarão seus ternos
pois de crias, fora acorrentadas