o que guardo
O que guardo
Que não me mata
Mas que me sufoca
E não serve pra nada
Que não me deixa rico
Nem mais sábio, apenas
Entristecido, como um
Covarde que come sapo
O que guardo que não
Me acrescenta: uma roupa
bonita, uma fotografia
De família, nem algo que
Ainda acredito...
O que guardo, que se eu não
Guardar me deixa mais leve,
mais livre, quiçá, mais bonito,
mas que eu insisto em guardar
como se fosse arte dourar
o passado e dele fazer um mito
que imagem não quero desfazer
se dela preciso me livrar pra
poder crescer, mas que continuo
guardando como se sem ela fosse
morrer,
o que me é tão precioso que
por mais que me doa, que me
dilacera, continuo montado como
uma cela que foi esquecida no dorso
de uma égua