Cantiga
A rede verde suspensa no ar
movia-se de forma
quase imperceptível.
Quem observasse,
as diria imóveis.
Tanto a rede
como a poeta dentro da rede.
A rede mantinha
uma cadência suave
como uma respiração.
A poeta estava ocupada
ouvindo o silêncio.
O ar frio trazia
esboços de sons.
Um pé de vento remexendo folha.
Uma criança brincando com um pato.
Uma bicicleta estalando a grama.
De vez em quando,
o apito de um trem
transportava a um tempo
em que só se chegava
à fazenda por trilhos.
Enquanto a tarde
pedia silêncio ao pensamento
e embalava a poeta,
a rede suspirava
num sono
profundo.
(Flávia Côrtes - Julho de 2012)