Ardósia Escrava
Salivada p’la miúda chuva,
chuvisco, pronuncio d’aguaceiro,
vagueia pardacenta, cinzenta Alma.
Chora empapada negra ardósia.
Rodam, rangendo, redondas escravas rodas.
No guincho e no gemido,
(tão sentido) …
Chora calcada a negra estrada;
Chora o alcatrão ferido – rio – via alagada.
Nebulosa travessia, (nem noite, nem dia).
Sombras apenas …
Nas trevas lúgubres, avanço e tropeço.
Caravela sem leme, sem timoneiro,
Que a estrada é agora o Mar inteiro.
A estrada … alongada...
Olho o céu onde navega
sentada na ponta de um cometa
uma borboleta em forma de estrela aberta...
Perdida …
Sem carta de marear, bússola ou mapa …
... a brilhar.
Que no Panteão, Indra, Deus da chuva,
soberano supremo do reino dos Deuses,
abriu todas as comportas.
Incontida, longa, a água
resvala dos olhos e morde a boca. Voraz!
Engulo a noite, no rodado mudo.
Desenho rectas e curvas convexas…
Engulo-me na noite, dossel de espumas,
montanhas encapeladas, altares de brumas.
Desencontrada …
Rola uma roda, carreto solto, perdida ...
Ardósia escrava, busca a Vida!