Quisera ter do tempo
Quisera ter do tempo o que a onda
do Mar já foi um dia ao navegantes,
o mundo em descoberto, o mundo antes
do mundo em que a bruteza nos esconda.
Um vento a suspirar amores puros
despindo a paliçada de um casebre,
deixando o teto aberto a quem tem febre
e fome de perder-se em Arcturos.
Ao transe dos lilases redolentes,
o cântico do céu tornasse prece
o rubro da metralha que entretece
o sono belicoso dos doentes.
E o sangue ulcerado nesses ombros
caídos sob os déspotas do mundo,
enchesse-se no espírito fecundo
da flor a germinar entre os escombros.
Os trigos fossem pães em toda mesa,
e os olhos, os archotes do Infinito,
com vozes se abraçando num só grito:
- Bendita seja a humana natureza!
Vitor Silva
30/01/13