OS ATEUS
Eu e Deus
Somos ateus
Ele confessou-me isto um dia
Enquanto bebíamos numa mesa de bar
Conversando sobre o mundo
Sobre a impossibilidade do mundo
Nunca até aquele momento (trágico admito)
Ouvira falar de um deus tirânico
Que na Terra caminhava desde tempos imemoriais
E quando soube que o impostor
Mesmo com sarcasmo e crueldades
Ganhou fama
Quis chorar
Se esperneou feito criança
E só não o achei mais ridículo
Pôr estar vergonhosamente bêbado.
Soube ele então
De guerras santas
De procissões idiotas
Das cruzadas cruentas
Da Inquisições
Dos martírios
Dos pontificados
De promessas e falsas indulgências
Tomou conhecimento
De todos os seus nomes
Que me lembrei no momento
O Onipotente enrubesceu
Vermelha feito o crepúsculo
Ficou sua face luminosa
Disse ao se recompor
Que nada disso era culpa sua
E se no outro acreditavam
Que dele recebessem as dádivas
Dito isto tomou outro gole
E ganhou rua
Soube semana depois
Que frequentava lugares imundos
Andava com prostitutas e drogados e jornalistas
Escrevia poemas medíocres (parecidos com os meus)
E assinava embaixo
Totalmente tomado pela loucura:
"Nietzsche"