OS ATEUS

Eu e Deus

Somos ateus

Ele confessou-me isto um dia

Enquanto bebíamos numa mesa de bar

Conversando sobre o mundo

Sobre a impossibilidade do mundo

Nunca até aquele momento (trágico admito)

Ouvira falar de um deus tirânico

Que na Terra caminhava desde tempos imemoriais

E quando soube que o impostor

Mesmo com sarcasmo e crueldades

Ganhou fama

Quis chorar

Se esperneou feito criança

E só não o achei mais ridículo

Pôr estar vergonhosamente bêbado.

Soube ele então

De guerras santas

De procissões idiotas

Das cruzadas cruentas

Da Inquisições

Dos martírios

Dos pontificados

De promessas e falsas indulgências

Tomou conhecimento

De todos os seus nomes

Que me lembrei no momento

O Onipotente enrubesceu

Vermelha feito o crepúsculo

Ficou sua face luminosa

Disse ao se recompor

Que nada disso era culpa sua

E se no outro acreditavam

Que dele recebessem as dádivas

Dito isto tomou outro gole

E ganhou rua

Soube semana depois

Que frequentava lugares imundos

Andava com prostitutas e drogados e jornalistas

Escrevia poemas medíocres (parecidos com os meus)

E assinava embaixo

Totalmente tomado pela loucura:

"Nietzsche"

Luciano Moreno
Enviado por Luciano Moreno em 24/03/2013
Reeditado em 10/03/2019
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