DA MINHA CARNE

Da minha carne,

Terás os vermes,

Terás o podre

Que sobra quando tudo finda,

Terás o gozo que vês por outras em vida é teu,

Terás este corpo que a muito se perdeu...

Morreu!

Terás também,

O bafo quente,

A língua firme,

Umas palavras falsas

De acalantos e ternura cruas,

Terás palavras humanas,

Terás minha mão que te toca

Em festa em segredo,

Que te toca em fogo em zelo,

Terás...

Algo apalpável,

Meu troco,

Pra teu gozo, teu uso,

Todo sumo, teu terás,

E será dele senhor!

Mas de mim, maldita!

Mas de mim,

Terás a solidão,

De minh’alma,

De mim,

Não da carne...

Da carne terás o que não presto, aliais terás o que sou bom.

Cama,

Um bar,

Uma bebida,

À noite,

O sexo...

Terás sim...

Terás essa cinza que chega com os dias nublados,

Terás tamanha dor, feito quem pari.

Terás essa onda de mar que teima constantemente bater nestas pedras.

Terás o que é da carne...

Da carne puro é sanguenta...

Da carne,

Mas do espírito...

Terás o meu desprezo,

Terás o que será sempre estranho,

Seremos estanhos um do outro!

Sem águas que nos lave,

Sem crença que nos aceite,

Sem mãos que nos toque,

O eu espírito não de toca,

Não te aceita,

E permanecermos sentado sem deus,

Nem principio,

Sem Salgadinho!

O eu espírito parece eterno,

Parecem mil almas,

Parece santo...

De te parece homem!

Do meu espírito,

Da minh’alma...

Não terás nada!

Mas carne...

Da minha carne,

Terás todo o meu divino!

Bendito homem de carne e de espírito,

Que goza tanto neste como noutro mndo!

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 24/03/2013
Código do texto: T4204623
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