Grávida de Poesia
Depois de tantos segredos
E promessas cumpridas e descumpridas
Mistura de medos e desejos
Depois das falsas despedidas
Das renúncias e das entregas
Depois dos versos de carícia
E da inocente malícia
Achou-se o caminho das pedras
Depois da excitação decantada em verso
Meu corpo em tua poesia imerso
Do prazer degustado em prosa
Do gozo desfolhado em tesões
Das canções com cheiro de rosa
As línguas se roçam
Tal qual Caetano e Camões
As almas finalmente se tocam
A penetração da inspiração
Provocou viagem ao infinito
Entre gemidos e gritos
De alma que se derrama
E teu nome chama
Em devotado rito
A fecundação se fez
Homem-poesia-mulher
Prenúncio de gravidez
Desatino de bem-me-quer
Começo de gestação
Batimento de coração
Sintonia de encantamento
De êxtase desabrochado
Em tão sublime momento
O corpo age, a alma reage
Um em espasmo, o outro em orgasmo
Sou mulher rendeira
Fiz renda com tua teia
E dela, manto para seduzir
Agora, mulher parideira
Em vias de parir
De parto natural, visceral
Seja noite ou seja dia
Eu, mãe de poesia...