tangência
Escrever é dor, as palavras
São incapazes, e minha angústia
Cospe-as pelas ventas e... em vão,
O ofício impreciso e impossível de
Colocar no papel o que não existe e nem
De fato pode existir em outro mundo
Se não esse: o da sombra;
O reino não apenas dos mortos
Mas de coisas que nunca viveram
(como traze-las à luz
se a loucura lhe zomba os
ouvidos, e a poesia
não confia nas superfícies?
Aprender novas palavras, novas sintaxes,
Lê quem chegou mais perto. Seria gênio
Quem chegou mais perto?
Dói ver a terra submersa...acordar
O poema adormecido, desesperançado
Num escuro ( ou seria o próprio escuro amotinado?)
E dali, atravessar a matéria dos sonhos,
Até em algum momento um surto lhe põe
Sede e alguma inteligência empacota-os aos
Olhos dos pobres, dos famintos, dos angustiados;
Sem falar nos soldados, leais aos príncipes,
Belicosos e cegos, que protegem seu reino
E a cada investida, a cada mergulho procedem
De orgulho e violência , e seus olhos nos perfura
a alma. Como Se invertesse o lugar da poesia....
Por isso amar de novo, para que novas tendas
sejam armadas, novas expedições organizadas,
novas vilas fundadas, para que a ternidade
nos chegue ao menos em tangência