tangência

Escrever é dor, as palavras

São incapazes, e minha angústia

Cospe-as pelas ventas e... em vão,

O ofício impreciso e impossível de

Colocar no papel o que não existe e nem

De fato pode existir em outro mundo

Se não esse: o da sombra;

O reino não apenas dos mortos

Mas de coisas que nunca viveram

(como traze-las à luz

se a loucura lhe zomba os

ouvidos, e a poesia

não confia nas superfícies?

Aprender novas palavras, novas sintaxes,

Lê quem chegou mais perto. Seria gênio

Quem chegou mais perto?

Dói ver a terra submersa...acordar

O poema adormecido, desesperançado

Num escuro ( ou seria o próprio escuro amotinado?)

E dali, atravessar a matéria dos sonhos,

Até em algum momento um surto lhe põe

Sede e alguma inteligência empacota-os aos

Olhos dos pobres, dos famintos, dos angustiados;

Sem falar nos soldados, leais aos príncipes,

Belicosos e cegos, que protegem seu reino

E a cada investida, a cada mergulho procedem

De orgulho e violência , e seus olhos nos perfura

a alma. Como Se invertesse o lugar da poesia....

Por isso amar de novo, para que novas tendas

sejam armadas, novas expedições organizadas,

novas vilas fundadas, para que a ternidade

nos chegue ao menos em tangência

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 19/03/2013
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