Renovação
Atravesso os arcos do passado
entrelaçados em pedra e mistério
O caos brinca com as estrelas
de uma constelação
Gaia, terra desvirginada
mãe de tantos filhos
brotando das entranhas do silêncio
Bendita seja a dor dos teus hemisférios
resplandecendo em atônitos primatas
mirando o infinito
Sobre teu solo toda guerra e toda paz
são passageiras
És perfeita, mãe-terra
Mas na alma do Homem vive ainda um monstro
teimando em desfigurar tua face
Gaia, mãe-terra de todas as ninfas, graças e faunos
Onde estão os que te cantam?
Clamam os deuses justiça
Caronte desolado em sua barca de morte
continua a levar, através das trevas, seus passageiros
Atravesso os arcos do passado
Senhora Terra, teu pobre Ícaro retorna
aos teus braços vegetais
para, se não salvar-te da fúria do progresso
pelo menos cantar teus olhos de algas
teu corpo arado por mãos de esperança
plantar em ti ainda uma semente
que seja forte, que seja fértil
E no vôo louco do absurdo
abalar tua órbita
recriando em meio à devastação
uma nova luz
que derrame sobre ti
o renascer da nova vida...