Renovação

Atravesso os arcos do passado

entrelaçados em pedra e mistério

O caos brinca com as estrelas

de uma constelação

Gaia, terra desvir­ginada

mãe de tantos filhos

brotando das entranhas do silêncio

Bendita seja a dor dos teus hemisférios

resplandecendo em atônitos primatas

mirando o infinito

Sobre teu solo toda guerra e toda paz

são passageiras

És perfeita, mãe-terra

Mas na alma do Homem vive ainda um monstro

teimando em desfigurar tua face

Gaia, mãe-terra de todas as ninfas, graças e faunos

Onde estão os que te cantam?

Clamam os deuses justiça

Caronte desolado em sua barca de morte

continua a levar, através das trevas, seus passageiros

Atravesso os arcos do passado

Senhora Terra, teu pobre Ícaro retorna

aos teus braços vegetais

para, se não salvar-te da fúria do progresso

pelo menos cantar teus olhos de algas

teu corpo arado por mãos de esperança

plantar em ti ainda uma semente

que seja forte, que seja fértil

E no vôo louco do absurdo

abalar tua órbita

recriando em meio à devastação

uma nova luz

que derrame sobre ti

o renascer da nova vida...

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 20/03/2007
Código do texto: T419562