FOGUEIRAS

Se me amares, vem de mansinho
e faz como se estivesses partindo,
para que não me assustes o coração.

Foram tantos anos de solidão,
que, mesmo quando estou sorrindo,
não esqueço a dor de estar sozinho.

Se me quiseres, te peço paciência
com este meu jeito atrapalhado
de cruzar os braços quando nos vemos.

Põe nos meus os teus olhos serenos
e vê o que trago em mim guardado
nos cantinhos que restaram da inocência.

Se quiseres ter uma relação comigo,
estende tua mão para a criança
que há em mim e brinca com ela.

Descobre os sonhos que pintei na tela
da doçura; viaja comigo a esperança
de que é possível amar um amigo.

Se assim não for, meu amor,
não me queiras,
que de dor e desamor
meu peito é só fogueiras.