Deslize

Neste momento, sentado num colchão, olhando fixamente para uma folha em branco, procurando palavras para expressar alguma coisa.

Alguma coisa profunda.

Estou aqui, longe de onde gostaria de estar, longe de quem eu queria ao meu lado.

Estou longe de tudo,

Longe do auge, longe do que quero...

Mas estou cansado.

Cansado de ficar lamentando e reclamando do momento que vivo.

Bem, é que tenho agora,

tenho que tirar algo bom disso.

A mesma coisa eu digo para você, minha jovem.

Não importa em que campo de batalha você esteja,

Não importa se a derrota é certa,

ou se há alguma chance de vitória,

dê o seu melhor e o seu pior.

Olha nos olhos da vida, procura um palavrão e cospe na cara dela.

Esse é o princípio.

Desliza no corrimão da existência.

Existem certos prazeres até nas maiores tragédias.

Antes da queda, existe o salto.

Antes daquele momento que você olha para os seus joelhos sangrando,

enquanto você geme estirado no chão,

antes da dor, existe sempre um momento de satisfação.

aquele...

“Puta que pariu, eu fiz isso.”

As grandes dores servem de lembrete de que estamos vivos.

O gosto de sangue na boca nos lembra que algo vivo flui em nossas veias.

mesmo quando tudo parece parado,

estático,

artificial.

E que tudo isso vai cicatrizar.

A dor vai estancar.

A queimadura no teu dedo, pelo cigarro que fumas compulsivamente,

a ressaca das minhas segundas feiras, por mais pesada que pareça,

o gosto de guarda chuva na boca,

o estômago revirando,

e até a saudade que eu não devia sentir,

de uma pessoa que eu não devia amar...

eventualmente vão passar.

Tudo isto vai passar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 18/03/2013
Reeditado em 26/06/2013
Código do texto: T4194407
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