PEDRA NO MEIO DO CAMINHO

Ah, essa tristeza de não parir poemas...

De não receber a rajada da inspiração.

Alma sangrando,

mar de vergonha e imensidão.

Meu peito busca

versos, estrofes, rimas, refrões.

Mas os lirismos se perdem no espaço.

E as rotas?

Não têm direção.

Eu, que estou sempre grávida de palavras,

perdi essa poesia no começo da gestação.

E agora,

por entre os dedos de minha mão

escorrem frases abortadas,

idéias natimortas,

criações inacabadas,

prematuras.

Resta a espera...

As lágrimas desesperadas

da mãe que vê o filho

através dos vidros da incubadora.

É fraco.

É pequeno.

É raquítico.

Mas não deixa de ser amado, desejado.

Assim é a vida de quem concebe poemas.

Às vezes, adormeço Drummond,

mas, quando acordo... Cadê?

Nada de Sentimento de Mundo!

Foi Adélia, rainha dos prados,

quem melhor definiu

a ausência de inspiração quando disse:

“Olho pedra e o que vejo é pedra mesmo”!

São Paulo

21/12/06

Goimar Dantas
Enviado por Goimar Dantas em 20/03/2007
Código do texto: T419192