Cantiga ao caminhar
- Prá onde vai essa estrada, meu amigo?
O seu rumo é seguro?
- Estrada tem vida própria, meu amigo.
É o que nos leva ao futuro.
Parto da dúvida em ficar
A certeza não mora comigo,
Meus eus me empurram à poeira
Fazendo dela própria o destino
Não sei a hora de chegar
Tampouco o tempo a trilhar.
Confundo-me com o acima e o abaixo,
Rezo prá ambos os deuses.
Embaralho minhas cartas e não jogo
Não perco mas arrisco a ganhar
Se dia não sei sol ou sombra
Se noite estrela ou luar.
Vento e pó me acompanham
E dizem-me perguntas traiçoeiras:
Colocam-me contra a parede
Na qual mergulho às respostas
Pinceladas por massa disforme
Na cal qual rama em rede.
A clareza às vezes me bate
Impondo um sentido ao andar.
Guio-me por gritos e pedidos
Faço opção ao enxergar.
E a fala que encanta faz luta,
Que faz caminhos cruzar.
Alongo-me e ao mundo me espraio
Vejo-me quase infinito.
Não sei ainda o fim do trilho
Nem onde vai me levar
Mas por certo, vou e volto,
Sou casa do caminhar.
- Prá onde vai essa estrada, meu amigo?
O seu rumo é seguro?
- Estrada tem vida própria, meu amigo.
É o que nos leva ao futuro.