Encantei-me por uma poetisa
À Larissa Nascimento,
Aconteceu recentemente de eu me encantar por uma poetisa...
De talento, o que é coisa rara hoje em dia.
Não a conheço,
apenas a li.
Foi uma daquelas situações inusitadas,
Do tipo que não se espera nem se tem como estar preparado.
Me vi, de repente, embriagado pelo que havia escrito.
Pela agradabilíssima escolha de palavras,
pela fluidez de seus versos...
Letras, sombras e lágrimas...
consigo até sentir a fumaça de seu cigarro quando a leio.
Tudo tão familiar.
Certa vez, ela deixou um comentário sobre um dos meus textos mais amargos e sombrios, um comentário elogioso e elegante.
Trocamos algumas palavras desde então,
mais ideias soltas do que uma real correspondência poética como era de costume nos séculos passados.
Falamos sobre nossas vidas, sobre nossas motivações,
falamos despretensiosamente.
Não a conheço, nem espero vir a conhecê-la um dia.
Tudo que vi dela foi o retrato monocromático que acompanha seus textos.
Tudo que sei sobre ela é que compartilhamos uma aparentemente irremediável angústia com a vida e com a forma que se vive nos dias de hoje.
É o mal do novo século...
estamos ambos contaminados, acredito.
Conhecê-la, foi uma obra do acaso, um golpe de sorte.
Uma das vantagens da internet.
Ao mesmo que te põe em contato com pessoas agradáveis a quilômetros de distância, te afasta coisas irritantes imediatamente ao seu lado.
Hoje, às vezes, me pego pensando...
Que aflições lhe afligem,
por quais calçadas ela anda,
a marca do cigarro que fuma,
as bocas que beija,
os calos em seus pés,
a cor do lençol com que se cobre...
será que sente tudo tão artificial, como eu sinto?
Será que como eu, ela se sente deslocada?
Em outra dimensão,
qualquer uma, menos a sua dimensão de origem...
Por que será que ela escreve?
quais serão seus motivos...
qual será sua maldição.
gostaria de lhe perguntar,
de lhe dizer...
- Não estás sozinha... -