A Chuva do Céu
A chuva que o Céu derrama no Mundo
não sacia a sede, nem a esperança dos homens.
A luz da Lua quase crescente
não ilumina as mulheres descrentes
e todas as lantejoulas são inúteis,
pois mais, muito mais, é preciso
para a vaidade de Narciso.
É tempo dos egos inflados
e das vaidades desmedidas.
É tempo das criaturas dementes
e das utopias decadentes.
Homem, homem, tu não habitas o Olimpo
e as circunstâncias te limitam.
Não deixes que a arrogância
roube-te a serventia.
Retome a tua via,
refaça a tua crença, a tua guia.
Resgate os valores da solidariedade
(muito mais que os da Sociedade),
da compaixão, da empatia.
Volte a crer na igualdade entre os diferentes,
já que a verdadeira grandeza dos entes
está na diversidade das partes
e no conjunto de todas as artes.
Recupere a dignidade de se saber
maior que qualquer Poder
e, principalmente, mais importante
que qualquer metal faiscante.
Destrua a ditadura da felicidade.
Apenas na melancolia
é que aprendemos a ser felizes.
Esqueça quando lhe ordenarem
que tenha o "espirito jovem".
A tua essência não pode ser amesquinhada
em superficiais faixas etárias.
Deixe a tua alma viver a Sabedoria
que só se alcança na maturidade.
Saiba que a beleza é importante,
mas apenas e tão só se a ti, ela agradar primeiro.
Não deixe que a máquina do Mundo imponha-lhe padrões,
tampouco nivele as tuas opiniões e conceitos
pela obscuridade de ignorantes sermões.
Lembre-se sempre que Religião é Re - Ligação
com o divino que tu escolher e preferir
e não um valhacouto de ladrão.
Desdenhe da cobrança pelo sexo compulsório.
Há outras formas de medir a tua performance
e saiba que a cama mal dividida
é apenas a mesma coisa repetida.
Pratique a felicidade simples.
Saboreie a comida que produz colesterol,
depressão, mal de Parkson, câncer, satisfação
e é absolutamente deliciosa.
Deguste o vinho que te parecer
um néctar dos deuses,
ria com os absurdos da própria situação
e chore com a poesia que é patética.
Exerça o amarelo dos Girassóis de Van Gogh,
os poemas de Drummond
e o que mais elevar o espírito.
Queira o melhor, seja lá como tu o vejas.
Recoste, homem, no colo da mulher amada,
viva a grandeza da paternidade
e a delicia da irmandade,
mas nunca se prenda ao amor
restrito aos laços sanguíneos,
pois eis que o mesmo é a seiva
de todas as vidas.
Pratique, homem, enfim, a sofisticada
arte de ver o Belo na simplicidade e
o Sublime na gratuidade.
E, então, quando tudo assim conseguirdes
recebas a outra chuva que
o Céu haverá de derramar.
Ela purificará as tuas tristezas
e lavará os teus caminhos.
Sinta em gota da mesma
a grandeza do Oceano
que agora te acolhe.