Rapsódia ( in Black)
Rasgos
eu buscava fechar os rasgos
da minha existência, que me
escondesse da infância e da
adolescência; e de tantos rasgos
fechados, rasguei-me de
incoerência;
tornei-me uma costureira,
que alinhava a criatura
escondendo com a costura
os rasgos de uma vida inteira
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quando na Bahia,
eu me portei como um homem,
levei uma chapoletada!
E ainda um gingada
não se pode uma casa
(ser apitada por dois
homens )
fui catar batatas,
levei tapas e cataratas
e fui dormir por uns anos...
pois numa casa do nordeste
somente manda quem é homem
se já tem um homem, como se
forma outro homem? Se pra
ele existir não se pode também
ser homem?
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A Dylas tomas
a dylas tomas
O impulso que me chega
não é poesia, tão pouco
inspiração, é o mistério
que pede perícia. E no
tecer de artesão, vou
arrumando em versos,
e deles nascem o poema:
ilha de persuasão, que
sintetiza o infinito ,
sem aresta ou profusão
quando pronto, o poema
se faz mundo... se tiver bem
bonito, claro e estruturado
por fora: mostra a beleza ,
por dentro: fala o diabo
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A janela é uma infância
É uma infâmia; é uma
Simpática emboscada
Lá fora o sol e a
Pretenso sonho nos dizendo
Único ( um baile de suicidas...)
Já não busco a loucura
Dos campos, do amor romântico;
Da busca fiz outra cidade;
Medrosa, mas sem alarde;
da qual sou Pathus, o rei
sua vossa magestade
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O sentimento que tenho agora
não é o mesmo de outrora,
Mas é da mesma laia!
dos que quer me fazer
rastejar igual lacraia
que diz em silêncio ou num gesto
de desconforto, que pra viver
nesse instante, é necessário
outro rosto
e eu lhe respondo com os punhos
armados e retos: que se for pra
fingir, eu prefiro o deserto
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abertura
Abrir-se o invólucro do espírito
E dele sair ratos e outros bichos
E ter a envergadura necessária,
De saber que o belo é o ser mostrado;
De que o feio é o que não se revela,
o que te deixa morto e desalinhado,
Que a beleza se faz comovente
Quando o sol se reflete num aparador:
Um deserto sombrio ou uma tempestade
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Minhas pernas
Me obriga a andar
Subo ruas e desço
Mar. Eu sigo apenas
Estrelas;
O sol é uma conquista
A solidão é minha
Corda prima, meu
Celeiro de rimas
E desapareço...
(Quando no que vejo
não me abasteço;)
E outras cascas
Virão outros máscaras
Cederão, em carne
Viva, eu, a criatura
Que da dor floresceu
Um rosto novo, uma
Alegria medrosa e cheia
De cataclisma...
(alguns mistérios
eu já aceito
já não me perturbo,
por não saber tudo
direito)
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Hoje me sinto mais
Forte, reuni-me aos exércitos
Do norte, juntei-me a outras
Tribos e armados marchamos
Forte, invadimos rios, casas
Vilarejos, tomamos cidades, e
Cortamos desejos, colocamos fogo
Nas barricadas que nos tornava duro
Estrada. destruímos castelos e queimamos
calabouços. E dessa guerra criamos
a força pra fazer o que nunca se fez:
renovar a vida e de cara limpa,
sentir de novo...
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craquelado
eu gostava de amor,
gostava de ser
de contar estrelas
de viver a céu aberto
ai, o céu desabou sobre
a terra e fomos
tomados de outro sonho
(o céu estava perto
mas era quebrado)
(entrei no sono
dos homens grandes)
desse dia em diante,
enlouqueci!
pra sobreviver entre os
cacos
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a pergunta que
trago não é sobre
rios ou das carolas
que se dizem virgens
não é do barco de aço
que me trouxe até aqui,
nem do varal que
eu guardo minhas máscara
quando essas se desgastam
a pergunta que tenho
já não a suporto em palavras
mas bem resumida:
por que tanta desgraça!