Rapsódia ( in Black)

Rasgos

eu buscava fechar os rasgos

da minha existência, que me

escondesse da infância e da

adolescência; e de tantos rasgos

fechados, rasguei-me de

incoerência;

tornei-me uma costureira,

que alinhava a criatura

escondendo com a costura

os rasgos de uma vida inteira

--------

quando na Bahia,

eu me portei como um homem,

levei uma chapoletada!

E ainda um gingada

não se pode uma casa

(ser apitada por dois

homens )

fui catar batatas,

levei tapas e cataratas

e fui dormir por uns anos...

pois numa casa do nordeste

somente manda quem é homem

se já tem um homem, como se

forma outro homem? Se pra

ele existir não se pode também

ser homem?

-------------------------

A Dylas tomas

a dylas tomas

O impulso que me chega

não é poesia, tão pouco

inspiração, é o mistério

que pede perícia. E no

tecer de artesão, vou

arrumando em versos,

e deles nascem o poema:

ilha de persuasão, que

sintetiza o infinito ,

sem aresta ou profusão

quando pronto, o poema

se faz mundo... se tiver bem

bonito, claro e estruturado

por fora: mostra a beleza ,

por dentro: fala o diabo

-------------------------------------------

A janela é uma infância

É uma infâmia; é uma

Simpática emboscada

Lá fora o sol e a

Pretenso sonho nos dizendo

Único ( um baile de suicidas...)

Já não busco a loucura

Dos campos, do amor romântico;

Da busca fiz outra cidade;

Medrosa, mas sem alarde;

da qual sou Pathus, o rei

sua vossa magestade

------------------------------------

O sentimento que tenho agora

não é o mesmo de outrora,

Mas é da mesma laia!

dos que quer me fazer

rastejar igual lacraia

que diz em silêncio ou num gesto

de desconforto, que pra viver

nesse instante, é necessário

outro rosto

e eu lhe respondo com os punhos

armados e retos: que se for pra

fingir, eu prefiro o deserto

--------

abertura

Abrir-se o invólucro do espírito

E dele sair ratos e outros bichos

E ter a envergadura necessária,

De saber que o belo é o ser mostrado;

De que o feio é o que não se revela,

o que te deixa morto e desalinhado,

Que a beleza se faz comovente

Quando o sol se reflete num aparador:

Um deserto sombrio ou uma tempestade

---------

Minhas pernas

Me obriga a andar

Subo ruas e desço

Mar. Eu sigo apenas

Estrelas;

O sol é uma conquista

A solidão é minha

Corda prima, meu

Celeiro de rimas

E desapareço...

(Quando no que vejo

não me abasteço;)

E outras cascas

Virão outros máscaras

Cederão, em carne

Viva, eu, a criatura

Que da dor floresceu

Um rosto novo, uma

Alegria medrosa e cheia

De cataclisma...

(alguns mistérios

eu já aceito

já não me perturbo,

por não saber tudo

direito)

---------------------

Hoje me sinto mais

Forte, reuni-me aos exércitos

Do norte, juntei-me a outras

Tribos e armados marchamos

Forte, invadimos rios, casas

Vilarejos, tomamos cidades, e

Cortamos desejos, colocamos fogo

Nas barricadas que nos tornava duro

Estrada. destruímos castelos e queimamos

calabouços. E dessa guerra criamos

a força pra fazer o que nunca se fez:

renovar a vida e de cara limpa,

sentir de novo...

--------------------------

craquelado

eu gostava de amor,

gostava de ser

de contar estrelas

de viver a céu aberto

ai, o céu desabou sobre

a terra e fomos

tomados de outro sonho

(o céu estava perto

mas era quebrado)

(entrei no sono

dos homens grandes)

desse dia em diante,

enlouqueci!

pra sobreviver entre os

cacos

--------

a pergunta que

trago não é sobre

rios ou das carolas

que se dizem virgens

não é do barco de aço

que me trouxe até aqui,

nem do varal que

eu guardo minhas máscara

quando essas se desgastam

a pergunta que tenho

já não a suporto em palavras

mas bem resumida:

por que tanta desgraça!

Alex Ferraz Poti
Enviado por Alex Ferraz Poti em 15/03/2013
Reeditado em 04/04/2013
Código do texto: T4190052
Classificação de conteúdo: seguro