Depoimento
O poema ignorou o meu chamado...
E foi para o topo de sua excelência...
E foi tão ligeiro
E subiu tão convicto
E tão altaneiro
E em tal desespero
que nem pude lhe deixar cravada
a cor da minha urgência...
Fiquei cá embaixo
embalando o amanhecer
E aguardando o momento de glória
de um verso
que não chegou ao seu intento
Ele não suportou a si mesmo
E acabou despencando
em minha madrugada
Não era assim que eu gostaria
que viesse...
Não era assim que deveria
aparecer...
Um poema que despenca por não estar em seu lugar
faz mal à saúde de sua própria poesia.
E agora cá estou cuidando de um poema com luxação...
(Não há coisa pior do que cuidar de dores superficiais)!
(Adriana Luz - madrugada de 21 de março)