Amanhã
quando amanhã eu olhar o clarão do sol,
estarei relendo os meus versos inocentes,
improcedentes, irresponsáveis, incandescentes,
descompromissados amantes de meia cama,
entorpecentes enganos para iludir minha alma.
quando amanhã eu renascer no estardalhaço do dia,
e o embaraço do triste olhar do palhaço no fim da piada,
e o último abraço entre pessoa e a literatura da amada,
gozo frio a esparramar-se em prontidão desesperada,
esperma que espera útero quente e quem sabe ser semente?
quando amanhã eu anoitecer com o fim do meu corpo,
enluarado, enjaulado, decapitado da minha criação,
esfriado pela noite e cortejado pelo sereno cheiroso,
sob a cobertura do céu escuro com algumas estrelas,
terão sido platéia e cenário, mortuário do meu amanhã.