Balada niilista (só pra ter título)
A tarde tem tons graves, infernais.
Sonho meu ser imerso na cidade,
no caos das praças e dos carnavais.
A hora tem um quê de gravidade
e eu vejo em negrito nos jornais
o necrológio da Eternidade.
Tudo é efêmero e sem verdade.
Vão-se os ônibus pelas marginais,
levando um passageiro sem idade.
Os centros lembram colônias penais
e algumas árvores sem qualidade
definham assim como múmias letais.
A História é já passado na saudade
do que nem sequer foi e não é mais,
o novo já não é mais novidade.
Os heróis de hoje são os mesmos de atrás,
são peças de um museu sem identidade,
e tudo é tanto fez e tanto faz.
Heráclito mergulha em seus canais
dialéticos, na sucessividade
do que se vai em águas fantasmais.
E em outdoors imensos, sem piedade,
no dorso dos edifícios gerais,
eu vejo a alma na publicidade,
feito um produto em promoções venais,
comprada pela imbecilidade,
que dança o funk dos débeis mentais.
Tudo é fútil e sem substancialidade.
No espaço fúnebre dos hospitais
há o luto da intelectualidade,
morrendo de doenças culturais,
enquanto a superior mediocridade
reina na tela podre dos globais.
E eu erro na contemporaneidade,
que passa velozmente nos sinais
onde um menino magro e sem vontade
joga seus malabares surreais,
criando milagres por necessidade -
um deus entre idiotas racionais...