VONTADE DE TUDO
Essa vontade que não cessa
Consumindo a liberdade
Ocupando precioso tempo
De... pensar outra vontade
Em qualquer coisa que se faça
Vê-se pensando na outra
E na próxima
Numa sequência viciosa
Que quando sana vontade
Fica ainda mais penosa
Freneticamente
Procurando possuir, dominar
Sentir sem pensar
Sobrepondo aspirações
Colidindo a misturar
Já nem se sabe mais o que querer
Ou se deveria deixar de correr
Ou se a vida é mesmo assim
Regida pelo anseio sem fim
Pois, se parar, sente vazio
Se seguir, sente aflição
Então qual o sentido das minhas metades
Senão o de preencher indecisão?
Na multidão, então
Se embrenha como outro interminável
Em estado terminal
Que na sede se consome
E se sustenta
Mas que permanece com fome
Enquanto a vontade alimenta
Continua desnutrido
Guardando os copos meio cheios
Num legado indefinível
Confuso de devaneios
Os desejos dançam
No fim do caminho
Onde está um livro sem páginas
Pelo chão, as folhas arrancadas
Outras delas cerradas no punho
Histórias nunca terminadas
Rabiscos aleatórios numa vida de rascunho